Brexit: 8 coisas que mudariam no dia a dia dos britânicos.

1 ano depois do furacão Syriza na Grécia e a meses do referendo britânico sobre a permanência na União Europeia, antecipamos 8 mudanças que uma eventual saída do mercado único traria ao quotidiano em terras de sua majestade.

V
David Cameron e Nigel Farage {Tjeerd Royaards}

1. Visitar a tia na Holanda, passar o fim de semana em Paris ou acompanhar o Chelsea na Liga dos Campeões

As viagens seriam claramente a maior restrição do quotidiano dos milhões de britânicos que anualmente se deslocam entre o arquipélago e a Europa Continental.

A livre circulação entre os dois lados até pode manter-se com o Reino Unido fora da UE, mas o cenário é bastante improvável (Cameron e Ca. querem limitar a entrada de cidadãos europeus).

Os conservadores bem tentam afastar imigrantes provenientes dos estados membros indesejáveis (tipo a Roménia), mas também não iriam facilitar a vida aos milhares de hooligans que fazem merda em cada capital europeia onde o Chelsea vá jogar.

A confirmar-se o Brexit, talvez os amigos do vídeo em baixo comecem as suas tradicionais festividades clubísticas com as montras do Heathrow Airport.

2. Emigrar para outro país da UE

Em termos de emigração temos moral para falar… não teríamos era pachorra para engolir os conselhos de Passos Coelho e ainda ter de mastigar as toneladas de burocracia necessárias para obter um visto de trabalho ou residência.

São cerca de 2 milhões de britânicos a viver noutro país da UE, e que de um dia para o outro (salvo seja) podem ter de actualizar o seu estatuto no país de residência.

Para não falar dos futuros emigrantes, que passariam a ter restrições como ter ‘x’ anos de residência e/ou dupla nacionalidade e/ou ter um(a) conjugue nativo para poderem abrir o seu negócio noutro país.

3. Aquela casa de férias no Algarve ou em Múrcia

Com a saída do mercado único, os estados membros poderiam restringir cidadãos britânicos de adquirirem património nos seus países. Mesmo para quem já tenha a segunda casa em Portimão, as regras de movimentos de capitais da UE deixariam de abranger o Reino Unido, o que dispararia os impostos sobre imóveis na posse de ingleses.

A não ser que inventemos uma espécie de Vistos Gold 2.0.

III
Os preços atractivos são a ‘main reason’ da invasão britânica do Algarve. {Sul Informação}

4. Direitos do consumidor

Nunca a arquitectura da União Europeia sofreu de tanto cepticismo, mas a verdade é que as suas regras abrangem de tal forma a sociedade civil que uma eventual desvinculação tornaria o processo de transição óptimo para jornalistas, mas um bocado chato para os consumidores.

É que se tens direito a reembolso em caso compres um produto com defeito bem podes agradecer às garantias do consumidor abrangidas pelos tratados europeus.

A transição para entidades nacionais nunca seria problema (apenas um sprint burocrático), mas as empresas teriam mais flexibilidade para pressionar a redução de taxas comerciais, ambientais ou laborais.

É que se no caso do Reino Unido tal cenário não seria assim tão perigoso, imagine-se num estado membro em derivas autoritárias, como a Hungria ou a Polónia.

5. Importar cenas da Alemanha

Vá, importar cenas de toda a Europa.

Mas por muito que lhes custe, a indústria germânica representa a maior fatia das importações no Reino Unido, e quase o dobro dos produtos ingleses que entram no mercado alemão.

iv
«A Alemanha pode ter perdido a guerra, mas não perdeu a indústria». {via The Week, 2015}

Para além do Reino Unido manter a balança comercial no negativo, 7 do top 10 dos países que mais importam pertencem à UE.

E com o comércio internacional a empregar uns bons milhares de britânicos, teme-se que uma eventual vitória do ‘SIM‘ no referendo leve ao encerramento de postos de trabalho, nomeadamente na transacção de produtos agrícolas.

6. Comércio com o resto do Mundo

Talvez a alínea mais favorável aos britânicos, dirão uns.

Ao sair do mercado único, o Reino Unido teria de substituir os acordos comerciais que os tratados europeus regem com outros países (tal como a Coreia do Sul).

Nada que outro sprint burocrático não resolva.

A boa notícia é que passariam a estar livres para assinar outros acordos que a UE não consagrou, como a China (2º maior importador no Reino Unido) e outros estados europeus fora da UE.

7. Sim… divorciar

VII

Chegamos à parte onde a burocracia não tem volta a dar e onde alguns pequenos detalhes podem resultar numa grande enxaqueca aos britânicos.

Tudo porque as leis da UE são (quase) tão infalíveis como os comentadores de direita tentam fazer crer na nossa televisão, ao ponto de regularem a nossa situação familiar.

Desde a simplificação dos processos de desvinculação do matrimónio, ao pagamento da pensão de alimentos depois do divórcio, existem uma serie de normas acima dos parlamentos nacionais regidas nos tratados da UE.

(Com parte destas alíneas a prendem-se com leis regidas por estes tratados… não admira que parte dos britânicos queira a soberania de volta).

8. Licenças de maternidade, férias e o guito ao fim do mês

Algures entre o ponto anterior e a alínea 4.

Algumas garantias laborais como a licença de maternidade ou as férias pagas são normas que as empresas com sede dentro da UE são obrigadas a cumprir.

Com a saída da UE, teme-se que o patronato aproveite a demanda para reduzir os custos.

IV.jpg

Para quem se lembra do escudo mas começou a receber a mesada em euros, a presença na União Europeia moldou, a bem ou a mal, a nossa forma de estar em sociedade.

Porque uma boa ideia não o deixa de ser quando concretizada de forma menos eficiente, menos equilibrada e consequentemente menos democrática.

Com as negociações entre Cameron e Bruxelas a contrastarem em peso com a terapia de choque dada à Grécia de Tsipras, o referendo britânico ensina-nos que a igualdade na UE é apenas slogan oficial, mas que nem a toda poderosa Grã Bretanha escapa incólume à dissidência.

Luís Masquete ●

Deixe um comentário